domingo, setembro 02, 2007

[de]formas

os trapos
farrapos
a parede fria
que se repete
formando o quarto
Trancado

as pernas
e o calor
a morada vazia
e a dor
formando a menina
Esquecida

terça-feira, agosto 28, 2007

Dever de casa

A primeira crônica

Ela tentava escrever uma crônica. Algo que falasse daquele mundo pequeno em que vivia. Talvez um pouco de poesia, talvez um pouco de ironia. Tentava juntar em sua mente os pedaços de uma cena própria de seu tempo e de seu espaço.

Mas ela não conseguiria. Saiu pela noite em busca dessa cena, com uma pequeneza tal que cheirasse ao clichê, mas de onde ela e somente ela poderia extrair a beleza e a sutileza dos acontecimentos e das vidas.

A jovem escritora buscava na cidade seu ponto de apoio, sua rajada de inspiração e emoção. Porém foi tomada de uma angústia que a embaçava a vista. Talvez a mistura de sentimentos própria da idade.

E ao pensar nessa sensação estranha que a tomou, pôde notar que ela precisava aguçar sua capacidade de ver. Na cidade, os néons piscavam, chamando. E tudo o que havia para se ler e saber obscurecia a sensibilidade. Ela percebeu que sabia demais tudo o que havia nos livros sobre pessoas e cidades. E que isso tornava mais árdua a tarefa de absorver… absorver os fragmentos humanos dispersos no espaço. Sobre tudo ela poderia teorizar.

Foi quando entender que não havia maneira melhor de falar sobre aquele tempo (este tempo) do que falar sobre si mesma, e sua limitada e egocêntrica maneira de entender os seres humanos. Então sua crônica falaria sobre esse ser-sintoma que ela era. Sintoma urbano, com néon saindo dos olhos e a dureza da razão travando os membros.

sábado, agosto 04, 2007

eight

eu e meus números. eu enumerando as páginas de um diário em branco. e as vezes que repito uma palavra. e os sentimentos presos na ponta do lápis. e as pontas caídas dos lápis. os erros de ortografia. os olhos vermelhos na fotografia.

{infinito}
[ dizem ]

segunda-feira, julho 30, 2007

Refrão

Eu quero ver e ouvir.
Não, por favor, não me obrigue a falar. Hoje eu não quero correr.
Não me faça perguntas.
Falo uma coisa querendo falar outra. Sempre faço isso. Você nunca nota.

segunda-feira, julho 09, 2007

Nós, Descartes e as coisas simples.

Como eu já disse uma outra vez em um momento de menor destreza e calma de pensamento e escrita, as coisas mais simples são as que nos tomam mais tempo. Ficamos horas simplesmente as admirando e dissecando, revirando - ainda que apenas em pensamento.
Nós somos míopes para o fato de que elas não se reduzem! Não é possível desmontá-las em pedaçoes para compreendermos suas partes fingindo compreender o todo. Nós não as compreendemos, simplesmente porque nãohá nada que se compreender sobre elas;
Elas simplesmente são.
Leiam Fernando Pessoa.
04/07

segunda-feira, julho 02, 2007

canto II

Cai o pano


Pisa teu salto no chão de madeira

Canta a morte em mil versos

Recolhe teus sonhos dispersos

Arranca da cara o espelho.


Acende de novo a fogueira.


Sofre calada a tristeza

de um mundo que em ti

amanhece.


Cai o pano


Pisa teu salto.

no chão de poeira

Canta a morte em teus vermes

Mata teus sonhos eternos

Arranca da cara esse espelho!


Apaga de uma vez a fogueira


Sofre calada a beleza

de um mundo que em ti

apodrece.

(agosto/2005)

domingo, julho 01, 2007

fragmento de um sorriso

amar
e amar simplesmente
amar despreocupadamente
numa rima bem clichê

cantar todos os versos
consagrados
amar assim, sem ser amado
amar o amor enfim sobre todas as coisas
e sobre si mesmo.

quinta-feira, junho 28, 2007

Fragmento

Ninguém poderia explicar. As palavras não eram suficientes; não que não tentassem, elas simplesmente não davam conta.
Pensar em palavras atrapalhava.
Elas eram cúmplices de nossos crimes perfeitos e das nossas insanidades. Elas eram nossos passos em falso e nossos tiros no escuro, nosso murmúrio ecoando, eternamente.

terça-feira, junho 26, 2007

Adormeceu ainda tenso. Intenso. Adormeceu os músculos tremendo, a pele ainda quente, as faces rosadas,a respiração paralisada. o peito lacerado aberto e o sangue correndo sob o céu de vidro e concreto. Adormeceu sem mesmo sentir. Sentir seus poros exalarem sua mais tenra e trágica condição humana, sua garganta se abrir em um grito inaudito, seus olhos cerrarem em mais puro êxtase.

segunda-feira, junho 25, 2007

Ele acordou meio desatento. Deslocado. Estava sozinho em um quarto branco e frio, a cabeça doía e o mundo rodava. As janelas eram de vidro.
As janelas eram de vidro, e dava para ver a cidade rugindo e os corpos que caíam. Os tiros sufocados e os beijos atravessados. Naquela rua tudo acontecia.
Naquela rua tudo acontecia, e dentro dele um infinito de angústia e fome. O limite do seu corpo, finito, era estranho. Janelas de vidro rasgavam e sua pele era branca e fria.

sábado, junho 02, 2007

Pah. mil sensações distribuídas por centenas de lembranças, mas poucas delas realmente concretas, sólidas, a maioria jorrando em uma fluidez estranha. Você que, eventualmente, venha a ler isto pouco vai entender, mas o que importa? Na verdade, talvez a fluidez mais estranha diga mesmo respeito ao desenrolar dos acontecimentos que me levaram a onde estou hoje. Que coisa...É clichê dizer que as pessoas nascem a cada dia...mas, vei, se for ver tá é certo isso. Tudo na sua vida fez você hoje ser você. Amanhã você pode morrer. Mas, caso isso não aconteça, tudo oque acontecer hoje com você forma, ou deforma, ou transforma quem você viria a ser amanhã. Isso é legal! É muito bom pensar isso. Dá uma sensação de falta de compromisso com tudo; sensação de "ir vivendo pra ver no que dá"...

quinta-feira, maio 24, 2007

Vamos começar do branco

Porque nem eu mesma sei dizer. O porquê . Está bom dessa maneira. Assim, viver a vida sem mesmo pensar. Aliás, pensar naquilo que deve ser pensado e sentir o que foi feito para ser sentido. Às vezes nós sentimos muito. Más às vezes é como aquelas barragens que se rompem Tudo vai por água abaixo. E isso também é bom. O salgado manchando a boca. Respira, Anna. Respira.

terça-feira, abril 10, 2007

ah, esse seu jeito tão bonido de dizer com o corpo como as coisas são deliciosas.

Do Zero

eles acordaram aquela manhã sem saber direito por que estavam ali; sabiam que a vida lá fora era um tanto caótica, mas insistiam em ficar ali, confortáveis, quem sabe suas mãos se alcançavam e seus cheiros eram confundidos; olhavam pro teto e tentavam sentir um a respiração do outro.
quer saber? não tinham a mínima intensão em saber de nada àquela hora. o relógio ao lado deles era digital: não fazia ecoar pelo quarto os passos certos do tempo. queriam; queriam mesmo estar ali. Aquela não era a casa cheirosa e cheia de boas lembranças que construiram em seus sonhos; não havia uma bela nascente nos fundos, nem pássaros para virem comer o arroz que caísse do prato no forro da mesa. A visão mais recorrente do por-do-sol era o engarrafamento típico das 17/18 horas. Mas, sim, por que não?, queriam estar ali, e dizer um ao outro o quanto se amam.
Não sabem se amanhã conhecerão os futuros pai/mãe de seus filhos, nem se se jogarão da ponte. Aliás, de onde estão vêem uma foto da ponte. Eles não sabem se o amor deles será, amanhã, mais uma canção num disco arranhado na vitrola. E não, talvez eles não saibam o que é vitrola.

10/01/2006

segunda-feira, abril 09, 2007

silêncio de mim mesma

Lembranças demais atrapalham. Embassam a vista, desconcertam. Palavras demais estragam, fogem, somem. Meu dia foi feliz, hoje. Falar demais cansa. E cada dia será feliz, para sempre. Amém.

terça-feira, março 20, 2007

- adeus. e até nunca mais ver.

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Jamais poderemos ainda que flores janelas paralelepipedos sejam acentuados tropecem nos corpos dados calados frios maçãs jornais cidades meninos sinais. Livrar nossas vidas fáceis voláties fluidas dançantes quânticas janelas de pedra e madeira.

terça-feira, fevereiro 20, 2007

abre a janela

a felicidade meu amor
é um engano
em teus braços
minha paz
é teu silêncio
e teu gito de agonia
é meu encanto