quinta-feira, julho 27, 2006
um pouco de
silêncio
um trapo, um verso, um segundo. a janela aberta, com a cara pro mundo. a cara sorrindo a manhã, serena. menina corre. menina, corre. à toda velocidade e o tempo já não podemos mais contar. já não conseguimos mais parar o tempo. vida frenética. velocidade.
silêncio.
paródia melancólica, melancolia paradisíaca, paraíso silencioso.
Imagem: blogs.ya.com/webandaya/200411.htm
Originalmente postado no Rabisco Zero
quarta-feira, julho 19, 2006
um pouco de Arnaldo Antunes
Saiba
Arnaldo Antunes
Ps.: ouçam essa música interpretada pela Adriana Calcanhoto
Arnaldo Antunes
Saiba: todo mundo foi neném
Einstein, Freud e Platão também
Hitler, Bush e Sadam Hussein
Quem tem grana e quem não tem
Saiba: todo mundo teve infância
Maomé já foi criança
Arquimedes, Buda, Galileu
e também você e eu
Saiba: todo mundo teve medo
Mesmo que seja segredo
Nietzsche e Simone de Beauvoir
Fernandinho Beira-Mar
Saiba: todo mundo vai morrer
Presidente, general ou rei
Anglo-saxão ou muçulmano
Todo e qualquer ser humano
Saiba: todo mundo teve pai
Quem já foi e quem ainda vai
Lao Tsé Moisés Ramsés Pelé
Ghandi, Mike Tyson, Salomé
Saiba: todo mundo teve mãe
Índios, africanos e alemães
Nero, Che Guevara, Pinochet
e também eu e você
-------------------------------Ps.: ouçam essa música interpretada pela Adriana Calcanhoto
terça-feira, julho 18, 2006
algumas palavras
Não tinha coragem. Havia certos limites; tinha de respeitá-los! As regras, as normas, a etiqueta! Uma mulher como ela, não poderia sorrir ou chorar, ou corar-se. Não sentia frio, ou calor, ou pudor. Era segura, bela e fria.Não se apaixonava, não sofria. Não questionava dogmas, filosofias e religiões. Agia conforme esperavam dela. Não era ríspida. Não era delicada. Não reclamava, acostumava-se. O amor, não pensava sobre isso, aprendera que não passa de bobagem. Deveria casar-se, servir ao marido, ter filhos e morrer. Tentava ausentar-se de seu corpo, fngir que ele não fazia parte daquela mulher. Era completa e assim a vida parecia ter sentido. Não sentia prazer; não se entregava. Cada dia que acabava era um alívio.
um pouco de Henriqueta Lisboa
A menina selvagem
Henriqueta Lisboa
A menina selvagem veio da aurora
acompanhada de pássaros,
estrelas-marinhas
e seixos.Traz uma tinta de magnólia escorrida
nas faces.
Seus cabelos, molhados de orvalho e
tocados de musgo,
cascateiam brincando
com o vento.
A menina selvagem carrega punhados
de renda,
sacode soltas espumas.
Alimenta peixes ariscos e renitentes papagaios.
E há de relance, no seu riso,
gume de aço e polpa de amora.
Reis Magos, é tempo!
Oferecei bosques, várzeas e campos
à menina selvagem:
ela veio atrás das libélulas.
Henriqueta Lisboa
A menina selvagem veio da aurora
acompanhada de pássaros,
estrelas-marinhas
e seixos.Traz uma tinta de magnólia escorrida
nas faces.
Seus cabelos, molhados de orvalho e
tocados de musgo,
cascateiam brincando
com o vento.
A menina selvagem carrega punhados
de renda,
sacode soltas espumas.
Alimenta peixes ariscos e renitentes papagaios.
E há de relance, no seu riso,
gume de aço e polpa de amora.
Reis Magos, é tempo!
Oferecei bosques, várzeas e campos
à menina selvagem:
ela veio atrás das libélulas.
terça-feira, julho 11, 2006
ah...um pouco de calor e de mim
ah, queria um pouco de calor, o sol.
as saias rodopiando, as janelas abertas deixando o dia entrar...
as saias rodopiando, as janelas abertas deixando o dia entrar...
um pouco de calor
A tarde não queria cair. Desabavam palavras na sua cabeça a lhe dar ordens e dizer o que não fazer. Cada sílaba durava uma eternidade e pela janela o azul entrava e o sol, o calor. Rígida, ereta, era obrigada a assistir à própria decadência. E tentava achar algo de poético naquela existência silenciosa e abafada, acho que o ar condicionado pifou de novo.
bobagem essa poesia hipócrita, orvedose de entendimento poético.
bobagem essa poesia hipócrita, orvedose de entendimento poético.
sábado, julho 08, 2006
Falar é fácil. Fácil. Ela pensou. Promessas sem sentido e gritos que não dizem nada, um silêncio que devora. Calada, entrou em casa e tentou sorrir ao se olhar no espelho. Aqueles cabelo lisos, oleosos, o resto de maquiagem no rosto, os olhos vermelhos.
Seu corpo doía. Era possível sentir cada músculo contraído. Respirava rápido, às vezes pensava sentir sua circulação, ouvir o sangue percorrer suas veias initerruptamente.
A repentina consciência de seu corpo lhe causou um estranhamento incomum. Prendeu a respiração, ainda mirando sua imagem pálida refletida. Pensava na realidade refratada. Pensava em suas unhas roídas, em como era viver dentro daquela casca e ser alguém.
uma mudança de perspectiva.
Seu corpo doía. Era possível sentir cada músculo contraído. Respirava rápido, às vezes pensava sentir sua circulação, ouvir o sangue percorrer suas veias initerruptamente.
A repentina consciência de seu corpo lhe causou um estranhamento incomum. Prendeu a respiração, ainda mirando sua imagem pálida refletida. Pensava na realidade refratada. Pensava em suas unhas roídas, em como era viver dentro daquela casca e ser alguém.
uma mudança de perspectiva.
sexta-feira, julho 07, 2006
um pouco de Milton Nascimento
Notícias do Brasil
Milton NascimentoUma notícia está chegando lá do Maranhão
Não deu no rádio, no jornal ou na televisão
Veio no vento que soprava lá no litoral
De Fortaleza, de Recife e de Natal
A boa nova foi ouvida em Belém, Manaus,
João Pessoa, Teresina e Aracaju
E lá do norte foi descendo pro Brasil central
Chegou em Minas, já bateu bem lá no sul
Aqui vive um povo que merece mais respeito
Sabe, belo é o povo como é belo todo amor
Aqui vive um povo que é mar e que é rio
E seu destino é um dia se juntar
O canto mais belo será sempre mais sincero
Sabe, tudo quanto é belo será sempre de espantar
Aqui vive um povo que cultiva a qualidade
Ser mais sábio que quem o quer governar
A novidade é que o Brasil não é só litoral
É muito mais, é muito mais que qualquer zona sul
Tem gente boa espalhada por esse Brasil
Que vai fazer desse lugar um bom país
Uma notícia está chegando lá do interior
Não deu no rádio, no jornal ou na televisão
Ficar de frente para o mar, de costas pro Brasil
Não vai fazer desse lugar um bom país
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