terça-feira, agosto 28, 2007

Dever de casa

A primeira crônica

Ela tentava escrever uma crônica. Algo que falasse daquele mundo pequeno em que vivia. Talvez um pouco de poesia, talvez um pouco de ironia. Tentava juntar em sua mente os pedaços de uma cena própria de seu tempo e de seu espaço.

Mas ela não conseguiria. Saiu pela noite em busca dessa cena, com uma pequeneza tal que cheirasse ao clichê, mas de onde ela e somente ela poderia extrair a beleza e a sutileza dos acontecimentos e das vidas.

A jovem escritora buscava na cidade seu ponto de apoio, sua rajada de inspiração e emoção. Porém foi tomada de uma angústia que a embaçava a vista. Talvez a mistura de sentimentos própria da idade.

E ao pensar nessa sensação estranha que a tomou, pôde notar que ela precisava aguçar sua capacidade de ver. Na cidade, os néons piscavam, chamando. E tudo o que havia para se ler e saber obscurecia a sensibilidade. Ela percebeu que sabia demais tudo o que havia nos livros sobre pessoas e cidades. E que isso tornava mais árdua a tarefa de absorver… absorver os fragmentos humanos dispersos no espaço. Sobre tudo ela poderia teorizar.

Foi quando entender que não havia maneira melhor de falar sobre aquele tempo (este tempo) do que falar sobre si mesma, e sua limitada e egocêntrica maneira de entender os seres humanos. Então sua crônica falaria sobre esse ser-sintoma que ela era. Sintoma urbano, com néon saindo dos olhos e a dureza da razão travando os membros.

sábado, agosto 04, 2007

eight

eu e meus números. eu enumerando as páginas de um diário em branco. e as vezes que repito uma palavra. e os sentimentos presos na ponta do lápis. e as pontas caídas dos lápis. os erros de ortografia. os olhos vermelhos na fotografia.

{infinito}
[ dizem ]