sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Sentia-se um senhor quando, mais uma vez, vinha assentar-se naquele banco do parque e observar as crianças e a tarde que morria. Era um hábito que vinha cultivando, como aqueles hábitos que a gente planeja ter depois dos cinqüenta, para tentar preservar um pouco da qulidade de vida, etc,etc,etc...

Ele mal havia completado seus 30 anos e gostava de sair do trabalho e ao parque, observar e pensar na sua vida, e rir de como parecia um senhor cultivando aquele hábito. algum tempo atrás, a essa hora estaria fumando; hora perfeita para fumar era aquela...o dia acabando, o corpo tenso, de pé desde sei lá que horas da manhã...mas parara de fumar e, em troca, ia ao parque. Quando pensava nisso sentia-se mais velho ainda. Nem tinha começado a vida direito e já tinha começado e parado de fumar; alguns cabelos brancos já despontavam.

Foi semana passada quando se deu conta disso. Foi para o bar e bebeu. Depois sentiu-se um idiota, mas já tinha torrado a grana toda em doses e doses de qualquer coisa que tinham lhe servido.

domingo, setembro 02, 2007

[de]formas

os trapos
farrapos
a parede fria
que se repete
formando o quarto
Trancado

as pernas
e o calor
a morada vazia
e a dor
formando a menina
Esquecida

terça-feira, agosto 28, 2007

Dever de casa

A primeira crônica

Ela tentava escrever uma crônica. Algo que falasse daquele mundo pequeno em que vivia. Talvez um pouco de poesia, talvez um pouco de ironia. Tentava juntar em sua mente os pedaços de uma cena própria de seu tempo e de seu espaço.

Mas ela não conseguiria. Saiu pela noite em busca dessa cena, com uma pequeneza tal que cheirasse ao clichê, mas de onde ela e somente ela poderia extrair a beleza e a sutileza dos acontecimentos e das vidas.

A jovem escritora buscava na cidade seu ponto de apoio, sua rajada de inspiração e emoção. Porém foi tomada de uma angústia que a embaçava a vista. Talvez a mistura de sentimentos própria da idade.

E ao pensar nessa sensação estranha que a tomou, pôde notar que ela precisava aguçar sua capacidade de ver. Na cidade, os néons piscavam, chamando. E tudo o que havia para se ler e saber obscurecia a sensibilidade. Ela percebeu que sabia demais tudo o que havia nos livros sobre pessoas e cidades. E que isso tornava mais árdua a tarefa de absorver… absorver os fragmentos humanos dispersos no espaço. Sobre tudo ela poderia teorizar.

Foi quando entender que não havia maneira melhor de falar sobre aquele tempo (este tempo) do que falar sobre si mesma, e sua limitada e egocêntrica maneira de entender os seres humanos. Então sua crônica falaria sobre esse ser-sintoma que ela era. Sintoma urbano, com néon saindo dos olhos e a dureza da razão travando os membros.

sábado, agosto 04, 2007

eight

eu e meus números. eu enumerando as páginas de um diário em branco. e as vezes que repito uma palavra. e os sentimentos presos na ponta do lápis. e as pontas caídas dos lápis. os erros de ortografia. os olhos vermelhos na fotografia.

{infinito}
[ dizem ]

segunda-feira, julho 30, 2007

Refrão

Eu quero ver e ouvir.
Não, por favor, não me obrigue a falar. Hoje eu não quero correr.
Não me faça perguntas.
Falo uma coisa querendo falar outra. Sempre faço isso. Você nunca nota.

segunda-feira, julho 09, 2007

Nós, Descartes e as coisas simples.

Como eu já disse uma outra vez em um momento de menor destreza e calma de pensamento e escrita, as coisas mais simples são as que nos tomam mais tempo. Ficamos horas simplesmente as admirando e dissecando, revirando - ainda que apenas em pensamento.
Nós somos míopes para o fato de que elas não se reduzem! Não é possível desmontá-las em pedaçoes para compreendermos suas partes fingindo compreender o todo. Nós não as compreendemos, simplesmente porque nãohá nada que se compreender sobre elas;
Elas simplesmente são.
Leiam Fernando Pessoa.
04/07

segunda-feira, julho 02, 2007

canto II

Cai o pano


Pisa teu salto no chão de madeira

Canta a morte em mil versos

Recolhe teus sonhos dispersos

Arranca da cara o espelho.


Acende de novo a fogueira.


Sofre calada a tristeza

de um mundo que em ti

amanhece.


Cai o pano


Pisa teu salto.

no chão de poeira

Canta a morte em teus vermes

Mata teus sonhos eternos

Arranca da cara esse espelho!


Apaga de uma vez a fogueira


Sofre calada a beleza

de um mundo que em ti

apodrece.

(agosto/2005)